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TOMAZ DE FIGUEIREDO
( Portugal )
Tomás Xavier de Azevedo Cardoso de Figueiredo (em grafia antiga Tomaz) (Braga, 6 de Julho de 1902 — Lisboa, 29 de Abril de 1970) foi um escritor português. Tem uma biblioteca com o seu nome em Arcos de Valdevez.
(...)
Aos doze anos vai cursar preparatórios para o Colégio dos Jesuítas, em La Guardia, na Galiza, em Espanha. Aí se vai já destacar na disciplina de Português, obtendo altas classificações. Em 1920, ingressa, em Coimbra, no Curso de Ciências Jurídicas, má escolha pela certa, porque o atirará para uma vida profissional que lhe será extremamente adversa. Em Coimbra, é contemporâneo e amigo do grupo “presencista”, afirmando mais tarde:
"Passeei em Coimbra com o chamado grupo da Presença, do qual em verdade não fiz parte, umas vezes aceitando e outras recusando, outras até ensinando e guiando, pois, independente e selvagem como era e me conservo – por graça de Deus! – impossível deixar-me arrebanhar, aceitar qualquer diácono ou pontífice".
Aos doze anos vai cursar preparatórios para o Colégio dos Jesuítas, em La Guardia, na Galiza, em Espanha. Aí se vai já destacar na disciplina de Português, obtendo altas classificações. Em 1920, ingressa, em Coimbra, no Curso de Ciências Jurídicas, má escolha pela certa, porque o atirará para uma vida profissional que lhe será extremamente adversa. Em Coimbra, é contemporâneo e amigo do grupo “presencista”, afirmando mais tarde:
"Passeei em Coimbra com o chamado grupo da Presença, do qual em verdade não fiz parte, umas vezes aceitando e outras recusando, outras até ensinando e guiando, pois, independente e selvagem como era e me conservo – por graça de Deus! – impossível deixar-me arrebanhar, aceitar qualquer diácono ou pontífice".
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À BRASEIRA
Saio da tua casa. Escorrega,
do codo, a rua. Alcanço a porta amiga
do seu Tio, que espera a suecada.
Ah! que rica braseira! Levas, pronto,
uma chita, ou lavagem, ou lambida,
ou rapada. Um jagodes, na Emissora,
alude a um trintanário de missas
que impôs um qualquer coiso em testamento.
Em barafusto. Rica bacorada.
Que viva a bela pândega dos burros!
A braseira consola. Cai folheca
lá fora. Os vidros suam, lagrimejam.
Apanhas, de seguida, três capotes.
(GUITARRA, 1956)
POSFÁCIO À TOCA DO LOBO
—Pai, vem da morte e vamos às perdizes.
Vejo a aurora, que tinge do seu rajo
de dente a dente a Serra de Soajo...
—Ciprestes, desatai-o das raízes!
—Este inverno as perdizes estão em barda:
criaram-se as ninhadas sem granizo.
Vamos chumbar dos perdigões o guizo,
anda matar securas da espingarda.
A tua Holland... O animal de presa...
O azul brunido... Velha e como nova...
Bem a merecias a alegrar-te a cova.
Penou-te de saudades, com certeza.
Aqui a tens. Porque era ver-te. Olhá-la,
sequer um dia que não fosse vê-la.
Olha deluz se a derradeira estrela,
já folga a luz no lustra aqui da sala.
Trinta anos depois, caçar comigo,
e sempre conversando e à chalaça...
Mais que perdizes, hoje, melhor caça
E matar fome de caçar antigo.
Ver-te sorrir à escapatória sonsa
da velha que não viu “perdiz nem chasco!”
E o lorde a anuncia-la sob o fasco,
e tu lambendo o cigarrinho de onça...
O pai, se não vias há trinta anos,
também há trinta eu não vivia, pai!
O sol, reacendido, vem e vai
divagando no aço inglês dos canos.
Ali, agora, o nosso amigo Lorde,
que tornou da raiz a laranjeira...
Dá aos queixos, marrado, na tojeira.
Vê cinco de bandada. Cinco morde.
O amigo espera. Vê. Petrifou-se.
Esperam as perdizes que medusa.
Vai lá tu só. Desacolcheta a blusa.
Secundaste a chumbada! Pai, que fouce!
Como na morte nem perdeste a mão
De por a Holland à cara e desfechar!
Na mesa o nosso Lorde o seu narrar,
E a vista, o faro, o tento e a paixão!
Tens sede... Oiço a chamar-nos uma fonte...
Vamos beber de borco, à antiga moda.
Sentemo-nos na relva, amando em roda,
ouvindo as idas falas do horizonte.
À moda muito nossa, de poetas...
Eu a falar de bulhas, bofetões,
e perdigões contando os esporões
e, sob a cauda, as régias pintas pretas.
À nossa moda antiga e hoje a mesma...
Traz-nos o vento lemes de penisco,
Desce a beber na fonte, agora, um pisco,
assustando os pauzinhos duma lesma.
E tu a perguntares dos meus estudos...
Que tal o meu Francês, o meu Latim?
“Óh pai, quando ao Latim, assim-assim...”
Ah! pai, que somos dois soluços mudos!
Lá vejo a nossa casa. Estás a vê-la?
O nosso tanque, a fonte, o laranjal?
E a Maria Velha, no quintal,
com um cesto de roupa e a estendê-la?
Ah! Meu pai, que até vejo pelos muros!
Lá te alcanço, da mesa à cabeceira.
Também deitando achas à lareira
( E todos nós, da vida tão seguros... )
A bica ali da fonte era de vento,
as perdizes, sequer embalsamadas,
o Lorde, sombra de asas afogadas,
falcão de rio e fome, o pensamento.
Ah! pai, que me repassam os nordestes,
que vejo além ferrugens de mil cruzes:
de dia, embora, palpitando luzes
e a palma de verdete de ciprestes.
( Aos Amigos, 2003)
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Página publicada em abril de 2022
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